Friday, January 27, 2006

Perdão

Por qual palavra esperas que eu diga, amigo. Qual termo mágico deverá sair de minha boca para alegria dos ouvidos teus? Por um acaso achas, que não dizendo tal palavra, calo-me pelos sofreres teus. Não fosse a nossa amizade argumento, o quanto a mim custaria proferir uma simples palavra? Sofro contigo por não saber o que me pedes, sem poder atender um pedido teu. Dizes que devo proferi-la sem que me peças, pois que só assim valor conterá. Qual palavra mágica é essa? Que, se dada, tem o maior valor, mas pedida é mote sem cor? Ah! Agora sei, meu amigo, agora sei que tu sabes, e porque sabes me envengonho, e envengonhado a ti peço humilde perdão. Copyright- 2006 - Ronaldo Renato de Souza

Friday, January 20, 2006

Futuro que se esvai

Quem é o ladrão, que tal um cão, vem roubar o meu futuro? Com que direito tal sujeito chega e leva o meu porvir? Não terei eu, por certo, merecimento aos dias certos, quem garantirá meus amanhãs? Viverei como um trôpego a cada hoje, sem saber se este hoje é tudo o que me resta a viver.

Não entreguei meu destinos a ninguém, não confiei a minha história pra ser escrita por um bedel que se diz senhor do mundo. Quem lhe deu procuração de chefiar os destinos do planeta? Meu senhor não és, nunca fostes e não serás. Não sufraguei o teu nome, não elegi o teu partido, não proclamei tua vitória, não é minha tua glória.

Quem és tu que ignoras as fronteiras? Qual foi o deus que te concedeu esse poder? Meu deus não és, não reconheço em ti a divindade, nem mesmo sei se mereces a menor humanidade. Eu rogo aos céus, que de ti nos proteja, nos defenda e nos guarde, para sempre, amém.
(originalmente publicado no domrs.weblog.com.pt)

Wednesday, January 18, 2006

A idade do lobo

A gente vai adquirindo experiência na vida - gostaram desse eufemismo para "ficar velho"? - e aprende que não se deve ser radical com nada; convicções definitivas, opiniões imutáveis são próprias da imaturidade. Sempre lembro de um ditado que diz que "o diabo sabe mais por ser velho do que por ser diabo". Se o diabo é astuto, ladino, e não é pela sua origem, mas pela sua experiência, pelos anos de estrada, nós também ficamos um pouco ladinos, astutos, e porque não dizer diabólicos, com o passar dos anos.

Eu não sou tão ladino assim, porque não sou tão rodado assim, e não sou tão matusalênico assim. Mas já ultrapassei o períoda da garantia faz um tempão. Digamos que estou na época da primeira troca de pneus, dos amortecedores, pastilhas de freio, aquela revisão obrigatória que a gente faz no carro nos cinqüenta mil quilômietros.

Uma idade, digamos, interessante, não vou chamar de idade do lobo porque não tenho o instinto matador do canis lupus, mas gosto da imagem desse cão poderoso desbravando florestas e savanas congeladas.

Monday, January 16, 2006

O modelo de sempre: o anonimato

Estava lendo um blog que faz uma campanha pelo impeachmment do presidente Bush, sob a alegação de que ele mentiu ao povo americano para entrar na guerra contra o Iraque - e mentiu mesmo. O interessante é que nos comentários, como é normal, há opiniões favoráveis e contrárias. As opiniões favoráveis ao impeachmment são todas assinadas, as contrárias são todas anônimas.

Qual será o motivo que leva as pessoas a agirem dessa forma? Eu acho perfeitamente legítimo que as pessoas tenham uma opinião contrária ao impeachmment, por que não? É uma opinião justa e que deve ser levada em consideração, o contraditório faz parte do jogo democrático. Não assinando as suas opiniões, fica parecendo que estão defendendo alguma causa ilegal, o que não é o caso.

Tuesday, January 10, 2006

Escrevendo bem cedo

Amanheço escrevendo, não por alguma saudade repentina que a noite fez aumentar. Tento fugir do clima de verão. O dia que amanhece magistral. Um céu de anil imaculadamente azulado, nem sinal de nuvens. O sol já começa a brilhar, levanta a cortina no horizonte e remete seus primeiros raios para a terra. Eu pressinto um dia muito quente. A metereologia confirma minha suspeita, e avisa que vem lá 40 graus celsius.

A essa hora o clima é agradável, uma aragem matutina varre a cidade abandonada. Os moradores daqui, como pássaros migrantes, mudam-se com a chegada do verão. Eles sabem bem como são os calores dessa cidade. Fogem em bando. Migram para o litoral. Estão certos, não lhes tiro a razão, há poucas formas de evitar o calor, você está nas mãos da tecnologia.

É preciso condicionar o ar. É uma possibilidade. Para isso é preciso abrir mão da liberdade, optar por viver preso, não há como condicionar o ar em liberdade. O ar preso é sufocante. Eles fazem bem em migrar. Não tenho pousada para migrar, sou obrigado a ficar, não consigo ficar preso, tenho que enfrentar o calor. São opções, preços que se paga por elas.

São as estações, mutáveis, o tempo amanhã se encarregará de trazer outros ares. Ai, então, reclamaremos do frio. São os ciclos eternos da vida.

Saturday, January 07, 2006

Palavreador

Eu gosto das palavras. Dessa combinação de letras. Desses vocábulos, fonemas. Melodias, que contam casos, relatam histórias, que desde pequenino o netinho escuta atento o seu avô contar. Eu me considero um homem de palavra, das palavras. De todas elas que eu puder juntar. Uma coleção, meu vocabulário especial, somos assim unha e carne, quase amantes. Todas elas, diletas, prediletas, que comigo passeiam todos os dias, de mãos dadas, nos jardins de tantas frases. E assim vamos cruzando os anos, como amigos, juntos, eu e elas, palavras, amigas, que tão bem me fazem. Palavras onde cabem sabores, dores, amores e cores. E. por isso tudo, eu gosto das palavras.